Pesquisa desmistifica relação entre exposição pré-natal aos derivados da planta e o diagnóstico de autismo
Nos últimos anos, o aumento do uso de cannabis durante a gestação nos Estados Unidos gerou inquietações sobre possíveis impactos na saúde das crianças. Durante muito tempo, algumas pesquisas sugeriram que a exposição ao cannabis antes do nascimento poderia elevar o risco de autismo nos filhos. No entanto, uma nova pesquisa, conduzida pela Kaiser Permanente em parceria com a Universidade da Califórnia, São Francisco, questiona essa ideia com dados mais amplos e detalhados.
Este estudo, que é um dos maiores já realizados sobre o tema, analisou 178.948 gestações e não encontrou ligação entre o uso de cannabis no início da gravidez e um aumento nos diagnósticos de autismo. Para os pesquisadores, essa descoberta é um passo importante na compreensão das verdadeiras causas do autismo, um transtorno do desenvolvimento que afeta a comunicação e a interação com o mundo. Mais do que um distúrbio, o autismo representa formas diversas de se perceber e viver as experiências, que muitas vezes desafiam as expectativas da sociedade.
A pesquisa utilizou o banco de dados da Kaiser Permanente, que realiza triagens universais para o uso de cannabis entre gestantes, usando tanto relatos das mães quanto exames de urina. Além disso, o sistema avalia de forma rotineira o desenvolvimento das crianças, incluindo o diagnóstico de autismo. Fatores como perfil sociodemográfico e condições de saúde das mães também foram ajustados na análise, o que permitiu aos pesquisadores observar que a relação inicial entre o uso de cannabis e o autismo desaparecia após esses ajustes.
Embora a pesquisa sugira que o uso de cannabis não aumenta o risco de autismo, ela aponta que mães que optam pelo uso da substância durante a gestação podem ter predisposições genéticas tanto para o uso de cannabis quanto para terem filhos com autismo. Contudo, os cientistas alertam: é importante ter cautela ao usar cannabis na gravidez, já que seus efeitos em outros aspectos do desenvolvimento infantil ainda não são totalmente compreendidos.
Esse estudo nos lembra de como é importante olhar para a ciência com uma mente aberta, desafiando pré-concepções para chegar a conclusões realmente embasadas. Ao invés de vilanizar o uso da substância, a pesquisa convida para uma reflexão mais cuidadosa e complexa, lembrando que o autismo é, em grande parte, uma questão genética e que outras variáveis precisam ser consideradas antes de estabelecer vínculos causais.