Introdução
O osso é um tecido importante do corpo humano e possui múltiplas funções, incluindo: apoio muscular, proteção para órgãos internos, movimento e locomoção, hematopoiese, bem como fornecimento mineral de cálcio e fósforo (Florêncio-Silva et al. 2015). Tem propriedades únicas representadas por uma alta resistência e capacidades de regeneração, que permite que o osso cure completamente quando as condições ideais são satisfeitas. A regeneração óssea é um processo complexo em que o osso é substituído, quer numa situação fisiológica ou patológica.
As principais células ativas envolvidas neste processo são os osteoblastos formando osso novo, e os osteoclastos que levam a reabsorção óssea. Estes são coordenados por receptores encontrados nos osteoblastos, osteoclastos, osteócitos e seus precursores, que regulam um elevado número de proteínas que estimulam ou inibem a formação óssea e a reabsorção óssea. Os estudos de investigação continuam a descobrir novos fatores que influenciam no processo de remodelação óssea, demonstrando novas oportunidades de tratamento.
Embora a capacidade de regeneração óssea do organismo humano seja notável, existem algumas patologias em que esse processo é inadequado, como na soltura asséptica de implantes e pseudo-artroses ou não união óssea. Nessas situações, fatores externos são necessários a fim de que o organismo seja submetido a um processo de regeneração óssea adequado. Os fatores exógenos mais utilizados hoje em dia são representados por fármacos sistémicos como vitamina D, ranelato de estrôncio, bifosfonatos, ácido zaledrônico e outros. A maioria destes fármacos provou as suas limitações, tais como fraturas patológicas, ineficácia e falta de dados clínicos, pelo que os agentes naturais estão em investigação para melhorar o processo de regeneração óssea.
Método
Realizada busca no Pubmed no dia 31/10/2022 às 15:24 no horário de Brasília com os termos:
- “fracture + cannabis”, foram encontrados 35 estudos, sendo 21 deles nos últimos 5 anos. 8 artigos de revisão e 1 estudo clínico controlado randomizado.
- “bone + cannabis”, foram encontrados 122 estudos sendo 49 nos últimos 5 anos, 33 artigos de revisão e 4 estudos clínicos.
Realizada uma pesquisa no site www.cannakeys.com – dia 31/10/2022 às 15:30 com busca específica pela patologia bone fractures. Foram encontrados 19 estudos, sendo 12 estudos primários, que examinaram diretamente componentes do sistema endocanabinóide no contexto de tratamento da condição pesquisada. 4 estudos com animais e 1 laboratorial.
75% dos estudos tiveram desfecho positivo em relação aos efeitos dos canabinóides.
Estados Unidos e China lideram a produção científica de estudos publicados pelo mundo sobre o tema.
Discussão
O sistema endocanabinóide tem demonstrado ter efeitos positivos no metabolismo ósseo. Os canabinóides ao nível ósseo atuam principalmente em dois receptores chamados CB1 e CB2, porém receptores GPR55, GPR119, TPRV1, TPRV4 também podem estar envolvidos. Os receptores CB2 são encontrados em células ósseas em níveis mais altos em comparação com outros receptores. Os endocanabinóides representados pela anandamida e pelo 2-arachidonoylglycerol, podem estimular a formação de osteoblastos, a formação óssea e modular a atividade dos osteoclastos. Agonistas CB2 incluindo HU-308, HU-433, JWH133 e JWH015 podem estimular a proliferação e atividade do osteoblasto, enquanto antagonistas CB2 como AM630 e SR144528 podem inibir a diferenciação e função dos osteoclastos. O antagonista CB1 AM251 tem demonstrado inibir a diferenciação e a atividade do osteoclasto, enquanto o canabidiol antagonista do receptor GPR55 aumenta a atividade do osteoblasto e diminui a função osteoclástica. Uma correlação ótima de dose, duração, momento de ação e afinidade pode levar a uma maior capacidade de regeneração óssea, com benefícios importantes em muitas situações patológicas que envolvem tecido ósseo. Como as reações adversas dos canabinóides não foram descritas em pacientes sob medicação controlada, os canabinóides podem representar um tratamento futuro para a regeneração óssea.
Dr. Jimmy Fardin Rocha
Médico ortopedista e vice-presidente do NDMCI
Artigo apresentado com exclusividade ao Núcleo de Desenvolvimento de Medicina Canabinoide e Integrativa.
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